Episódio 11 - Drogas, Sexo e Rock 'n Roll!
Connie e Tesus tinham finalmente acabado o servicinho. Enquanto Connie tentava, sorrateiramente, escapar ao inquérito do segundo marido, dizendo que tinha de ir fazer um chap chap, Tesus estava entretido na cama, a fumar uma beata que tinha encontrado por ali. Mas quem será esse Afonso? Não me digam que esta gaja me anda a por os cornos?! Mmmm... Ventil, que sorte que tive!
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Sssusana entra na Merda do Bar da Esquina disposta a esquecer que o mundo cagava para ela.
- Um fino, ssse fazzz favor, e pode já ir tirando outro... eu vim para ficar! - disse, com o tom de voz baixinho habitual.
Nesse momento, Daniel Caralhadas entra no bar, farto de não entender as papaias (ou não) de Maluca. Os seus olhos cegaram. Indiferentes a tudo o resto e ofuscados pelo o que deveria ser a beleza de Sssusana, Daniel nem uma caralhada conseguiu dizer. Os elegantes movimentos de Sssusana a levar o copo ao encontro dos seus lábios húmidos provocavam-lhe um vazio mental inexplicável. Após os 5 minutos de estagnação à porta da Merda do Bar da Esquina, percebeu o que estava a sentir. Aí, sim, pôde finalmente libertar algum stress em forma de palavras. Então é esta puta de sentimento que está a deixar o Martim meio maluco!!! Caralhos me fodam, também fui apanhado!
No meio das caralhadas, pensou que, em vez de estar ali com merdas, devia era estar a arranjar forma de se sentar na mesa de Sssusana. Mas não foi preciso. O álcool que a jovem já tinha injectado no sangue foi suficiente.
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Olivério queria morrer. Pela primeira vez na vida, sentia que quando o resto do bairro o chamava de otário, era mesmo a sério. Ao ver passar por ali Maluca e ao olhar um pouco mais para cima, para a janela de Paulo Charras, pensou que, se alguma coisa não mudasse de vez na sua vida, o seu destino não iria ser mais feliz do que o daqueles seus dois vizinhos.
Paulo Charras pressentiu a tristeza no olhar do amigo e quis ajudar.
- Olivério, ma man... então... 'tá-se ou não?! - interpela Paulo.
- Não 'tou muito bem, não... - responde Olivério, completamente acabado.
- Olha lá, queres uma pastilha para animar? - disse Charras, atirando, lá de cima, uma pastilha de aspecto bizarro para as mãos de Olivério.
- Obrigados, pá... tava realmente com uma secura na boa... - disse Olivério, lembrando-se que aquela secura talvez tivesse algo a ver com as lágrimas que tinha chorado.
- Então bebe um pouco de água... - disse Charras, com um sorriso maroto.
Sem se aperceber, Olivério leva demasiada água à boca e engole a pastilha. Não foram precisos mais do que uns segundos para Olivério começar a sentir que aquilo não era nenhuma pastilha Gorila. Enquanto Paulo Charras ria compulsivamente - e talvez até nem fosse da situação em que o amigo se encontrava -, maluca rodeou Olivério e começou a dançar à volta dele, enquanto batia na boca como os índios e dizia, ao mesmo tempo: "Mata-a... no teu coração, Bianca bruxa... a efémera... dia de vida... que ela se importa?... um bocadinho! Martim não é filho... de Tesus"
Será que o que Olivério tinha posto no buxo e a habitual dose de Paulo Charras, os fariam lembrar do que Maluca tinhaacabado de dizer?
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Quim Zé sentiu-se estúpido quando chegou ao Pavilhão Atlântico e se viu rodeado de adolescentes. Tentou auto-confortar-se: Tinha de vir para aqui cedo, senão como é que arranjava lugar lá à frente, para ver bem a Madonna e a Shakira?!
Mais tarde, quando lhe pediram o bilhete, Quim Zé entrega outro papel por engano.
- Mas tá a gozar comigo? Aqui só bilhetes oficiais! Que raio... agora já nem se dão ao trabalho de falsificar os bilhetes... tss tss! - diz o empregado que conferia os bilhetes.
"Porra, mais um?!", pensa Quim Zé. Abriu o bilhete e então leu:
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"Tu és chatinho, pá! Então eu andei a gastar papel e caneta para quê? Não te fiz um aviso? Um aviso é um conselho, uma advertência, uma admoestação. Mas, afinal, que parte da palavra AVISO é que tu não percebeste? LOL Nem sequer me vou dar ao trabalho de repetir o aviso. Mas eu ando a roubar dinheiro?! Deves pensar que eu sou rico como tu para andar a escrever bilhetinhos destes a toda a hora. Não chegou um aviso?! Tinhas de me fazer gastar mais um papel! Eu que faço tudo por tudo para economizar papel... Que isto te sirva de lição, ãh? Isto é mesmo um aviso. O mesmo que te fiz no primeiro bilhete, porque não posso desperdiçar mais espaço neste papel. Já sabes. Pensa bem. Não posso voltar a escrever aqui qual era o aviso, por isso, estou a contar que te lembres do primeiro aviso. Vá, não sejas chatinho. Lembra-te lá. É que já não tenho mesmo espaço. Tás avisado, pela segunda vez, ok? Se não te lembrares do que te avisei da última vez é um pouco aborrecido para mim. Beijinhos fofos*** "
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Mais uma vez, Quim Zé sentiu-se perturbado com aquele papel. Sentiu-se até culpado. Não se lembrava do que dizia o primeiro papel. Oh, depois penso nisso, pensou, a Madonna vai entrar! Quando a diva da pop entra em palco, em frente a todos aqueles milhares de pessoas, Quim Zé sente que deveria estar a fazer outra coisa qualquer. Mas que raio, o que é que me pode ter passado ao lado? O barulho da multidão rapidamente o fez esquecer das preocupações e maus pressentimentos. Ele estava nos MTV Music Awards. Que mais poderia interessar? Não é que fosse perder alguma coisa por ali estar... ou então sim...
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A alguma distância dali, a namorada de Quim Zé transformava todas as suas recordações sobre o namorado. O "Quim Zé" com quem partilhava aquela cama era mais meigo, mais atento, mais apaixonado e... mais fedorento. Meu Deus, que paixão... eu sei que sou boa, mas é como se fosse a primeira vez que está a olhar para o meu corpo nu... Surpreendendo-se a si própria - ou não fosse ela uma Barbie mesquinha e fútil -, Gisele sentiu-se mais excitada do que nunca. O cheiro dele, as mãos encardidas... o cabelo a cheirar a lixeira... tudo aquilo transportou-a para um cenário de amor completamente diferente daquele a que estivera habituada durante todo os meses anteriores de namoro. E isso, apesar dos odores, era bom. Ultimamente, a relação tinha entrado na rotina.
Os olhos esbugalhados de Martim diziam tudo. De repente, era como se tudo tivesse todo um novo sentido. O sussurrar tivesse ganho doçura, a pele tivesse agora toda uma nova função... era como se amar agora tivesse começado a ser algo mais do que ver os pais a pôr a mesa da cozinha a chiar.
Sem conseguir deixar de sentir-se completamente extasiado, Martim soube que aquilo era tão certo, como errado.
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