Episódio 9 - Está tudo doido!
Na lixeira, corria um vento de mudança. Era como se, desde a quase-revelação de Maluca, o Bairro Fétido nunca mais tivesse sido o mesmo. Está embruxado, pensavam muitos dos seus habitantes.
Connie e Tesus Apodrecido cumpriam o objectivo habitual e tudo corria bem, até que...
- "Sim, Afonso... siiim!" - gemeu Connie, sem se aperceber do que dizia.
- "Quem?'' Afonso?! Quem é o Afonso?!" - refilou Tesus, sem nunca parar o que estava a fazer.
- "Brincadeirinha, amor?!" - tentou Connie, abraçando Tesus com ainda mais força, como que a tentar fazê-lo esquecer o que tinha dito.
- "Minha menina, quando acabarmos o servicinho, vamos ter uma looonga conversa!" - disse Tesus, em tom de ponto final.
Connie assentiu, assumindo que tinha feito asneira. Como me vou livrar desta agora? Será que devia contar-lhe a verdade? Bem, agora não há nada a fazer, mais vale aproveitar o momento.
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Mesmo ali ao lado, estavam Bianca Cristina, Olivério e Daniel Caralhadas, este último completamente revoltado por estar a assistir a mais uma cena entre aqueles dois.
- "Olivério, tu gostas mesmo de mim, não gostas?" - perguntou Bianca Cristina, com um pestanejar ganancioso.
- "Gosto, gosto, gosto!!! Gosto muitíssimo!" - respondeu o otário do Olivério.
- "Óptimo, porque eu..." - diz Tininha, interrompida pelo apaixonado.
- "... porquê? Tu também gostas de mim, é?! Eu sabia!" - diz Olivério, de repente cheio de esperança.
- " Não desconverses. Eu preciso de um telemóvel..."
- "Eu dou-to. Fica com o meu" - e Olivério entrega-lhe o seu telemóvel, comprado com 6 meses de trabalho como engraxador, tentando tocar com a sua mão na de Bianca.
Mal tem o telemóvel em sua posse, Bianca vira costas a Olivério, retira um papel do soutien e toca a marcar o número do engate do Hospital Mais Próximo.
- "És mesmo um tótó! Essa vaca mal tem o que precisa, caga logo para ti! Vê lá se acordas, porra, é demais!!!"- resmunga Daniel Caralhadas.
Olivério lança um olhar a Daniel, como quem diz: Vou-te já mostrar que não tens razão.
- "Bibi Titi? Podíamos ir dar uma volta só os dois..." - diz Olivério, num tom carinhoso.
- "(gargalhada) Tás doido?! Preferia morrer a ter de ser vista contigo, até aqui nesta lixeira!!!" - responde friamente Bianca Cristina, que sai imediantamente dali, para falar ao telemóvel:"Tou? Olá gatinho... lembras-te de mim?"
Olivério ia jurar que viu o seu orgulho cair desamparado no chão. Daniel Caralhadas disse entre dentes "G'anda vaca!" e deu uma pancadinha nas costas de Olivério. Em seguida saiu dali, dizendo "Eu bem os aviso... que caralho... mas ninguém me ouve... que puta de vida!"
Será que é desta que Olivério vai abrir os olhos?
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Martim estava diante da porta dos escritórios Nãofaznenhum. Vou entrar, pensou, eu tenho o direito de saber a verdade. Entrou nas instalações, envergonhado, e dirigiu-se à recepção. A recepcionista já sorria para ele, estava Martim a 10 metros. Estranho, pensou. Achou ainda mais estranho o facto de todas as pessoas por quem passava o cumprimentarem. Só posso estar no sítio certo.
- "Bom dia, menina, é capaz de me dizer onde posso encontrar o Dr. Quim Zé Nãofaznenhum, por favor?" - perguntou Martim.
A recepcionista não pôde evitar rir. Os ricos são mesmo maluquinhos, pensou para si mesma.
- "Sempre engraçado, Dr. Quim Zé, aha ahah, o seu pai espera-o na sala de reuniões".
Martim apercebeu-se do que estava a acontecer, mas não esqueceu o objectivo. Sala de reuniões, onde ficará isso? Rapidamente os seus olhos encontraram a indicação na parede: "Sala de reuniões - último piso". Resolveu tomar as escadas; sentiu que estar dentro de um elevador com gente "conhecida" poderia ser constrangedor demais. Mal pôs o pé na escada, ouviu-se o Tlim! do elevador que descia. A recepcionista não queria acreditar no que via. Preciso de férias, pensou.
- "Dr. Quim Zé, onde vai desta vez? A reunião está prestes a..." - a recepcionista sentiu que as suas palavras tinham sido ditas em vão... e calou-se.
- "Belinha, diga ao meu pai que fui ver os MTV European Music Awards!"- rematou Quim Zé, sem sequer olhar para ela.
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