Covil

O pior PARALÍTICO é aquele que não quer andar.
Quem MORRE por gosto não cansa.
Quem muito se ARMA, muito se fode.
Mais depressa se apanha um mentiroso do que um COXO.

Wednesday, November 23, 2005

Episódio 15 - Esta mensagem é um aviso...

Há medida que avança aos trambolhões em direcção ao elevador em pelota com a roupa na mão, Martim questiona-se várias vezes do porquê de estar ali. Daniel tinha razão, ele era completamente maluco, estava a encarnar alguém que não era e estava a enganar uma linda mulher. Estava a apaixonar-se por alguém e esse alguém nem sabia quem ele era.

No estacionamento do condomínio mesmo muito bom onde moravam SSussana e Gisele, Quim Zé e esta, carregavam aquela em direcção ao carro de Daniel. “- Mas, qual é o carro daquele tipo fedorento?” Indaga Quim Zé já a pensar que se não descobrissem qual era o veículo, teriam de voltar a carregar SSussana até ao elevador e de volta ao apartamento. “- Eu posso não ser muito esperta…” Exclama Gisele. Nisto SSussana abre momentaneamente os olhos e vocifera um sonoro “- LOL” para voltar de seguida a desmaiar. “- Hã?! Bem, como eu estava a dizer… Parece-me que deve ser única chocolateira fedorenta aqui estacionada…”. Depois de colocarem SSussana no “carro”, Quim Zé e Gisele dirigem-se para um dos elevadores. Assim que as portas abrem e entram dentro do elevador, antes de estas voltarem a fechar, têm um pequeno vislumbre de um homem nu a correr para fora do elevador do lado. Gisele podia jurar que conhecia aquele traseiro, não fosse Quim Zé estar ao seu lado.

Dentro do apartamento de Gisele, Daniel Caralhadas agarrava Fifi para o impedir de correr atrás de Martim “- Larga-me seu brutamontes, o Menino Quim Zé vai nu!”, “- Pois vai e tu tens nada a ver com isso meu cabrão! Meu paneleiro do caralho!”. Ao ouvir aquelas palavras Fifi, apoderado de uma força descomunal manda Daniel ao chão e tenta correr para a porta “- Eu não sou paneleiro! Sou o mordomo másculo dos Naofaznenhum!”. Assim que atinge o limiar da porta, vê o elevador e de dentro dele saem Quim Zé e Gisele “- Oh não o Fifi está cá!” profere Gisele já desesperada com o que lhe tinham feito à noite.
"- Fifi, que estás aqui a fazer?"
"- Bem senhor, o patrão disse que o menino tinha desaparecido depois da reunião e eu fiquei preocupado, como não atendiam o telefone corri para cá."
“- Eu estive cá a tarde toda, o telefone nunca tocou.”
Exclama Gisele desconfiada.
“- Que reunião, eu não fui a reunião nenhuma.”
“- Não foste?! Mas então ficaste o quê a fazer na empresa?”
Gisele começava a desesperar com a confusão.
“- Eu não estive na empresa fui a Lisboa ver os MTV Music Awards.”
“- Foste o quê? E não me levaste contigo?”
“- Ups… Desculpa doçura…”
“- Mas então, quem esteve comigo a tarde toda?”
“- Tu estiveste com alguém a tarde toda?”
“- Ups…”
“- Mas eu já não percebo nada! Tem alguma coisa a ver com o homem pelado que eu vi sair do elevador? Espera lá, tu aí!!”
Assim que começou a aperceber-se que ninguém tinha reparado na sua presença Daniel Caralhadas tenta esgueirar-se pela porta, mas a meio do caminho é interrompido:
“- Quê que foi caralho?”
“- Você deve saber o que se passa!”
Berra Quim Zé aflito com o que se passava.-
“- Eu?! Fodasse eu não sei de nada caralho. Vim trazer a minha bebedazinha a casa e esta cambada de cabrões nem sequer a querem cá. Ide pó caralho meus filhos da puta se pensam que eu vos vou dizer o que quer que seja!!” E desata a correr em direcção ao elevador.
Já no estacionamento Daniel entra no seu carro onde já se encontravam SSussana e Martim. “Tu tens muito que explicar ó meu filho da puta!”

No Bairro dos Fedidos, Connie caminhava desesperada pelo trilho de merda. Mas que raio iria ela dizer a Afonso quando o visse. “- Olha amorzinho, voltei depois de vinte anos para te fazer uma proposta de um ménage a trois com o homem pelo qual eu te deixei, aceitas?” Ridículo. Enquanto murmura estas palavras Connie é repentinamente encandeada pelas luzes de uma chocolateira que se aproxima a toda a velocidade. Sem tempo para se desviar, Connie grita “- Foooodasssseeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee” há medida que é abalroada pelo veículo e vai parar ao monte de lixeira mais próximo. Deitada nos escombros daquilo que um dia já foi uma sanita, Connie, enquanto pensava que efectivamente vivia rodeada de merda, ouve ao longe uma voz masculina “- Mãaaaaaaaaaaaaaaaaeeeeeeeeeeeeeeee!”. Enquanto começava a fechar os olhos e a perder sensação no corpo todo, num breve suspiro antes de adormecer, vislumbra uma sombra que se debruça por cima de si e ouve “E é amar-me assim perdidamente, é mentir, roubar e só faltar matar! Fodeste-te!” Era Maluca, só podia mesmo ser Maluca, antes de desmaiar por completo, Connie ouve ainda um sonoro PUF, e fecha os olhos, ficando por saber se perdeu os sentidos por causa das dores ou do cheiro.

Depois de ter retirado a máscara de repressão que tinha colocado há muitos anos depois de ela se ter ido embora, Afonso, chora desalmado enquanto tomava o seu banho de imersão perfumado com rosas. Quando começa a abrir os pulmões para deixar sair o mais sincero suspiro que estava guardado havia anos, Afonso sente uma repentina dor no peito “- Raisparta… Boa altura para ter um ataque cardíaco, nu, no banho e e… sem o Fifi em casa!”. Porque Afonso era uma homem prevenido e nunca largava o seu telemóvel mesmo muito bom, pega nele com a mão disponível enquanto a outra agarra o peito e telefone para o 112. Com muito custo consegue sair da banheira, não vá desmaiar ali e morrer afogado, e dirige-se para o quarto. A dor, tornando-se de tal maneira poderosa, atira Afonso para o meio do chão do quarto não tendo este tempo de se vestir, acabando por ficar pelado, à espera da ambulância. Estranhamente, os seus últimos pensamentos recaíram sobre Fifi, e a noite chuvosa em que este apareceu pela primeira vez no seu apartamento realmente mesmo muito bom, envergando apenas uns farrapos encharcados e carregando um papel na mão que começava com as seguintes palavras “Esta mensagem é um aviso…”.

Monday, November 21, 2005

Episódio Especial 14 - Marmelada ou marmelada?

Pequena Introdução Esclarecedora:
O presente episódio é da autoria de um brainestrumer que se dá pelo nome, ou pela letra, como queiram, de A. Num acto de bondade ínfima por parte das autoras da Novela-Mexicana-Ainda-Sem-Nome, abriram-se as portas dos escritórios onde é exposta a criatividade originadora desta maravilhosa obra prima para integrar na sua equipa brilhantemente inovadora a participação especial deste escritor que, embora não partilhe da genialidade das autoras, mereceu demonstrar o seu gosto pela novela da melhor forma possível: contribuindo para o seu crescimento e qualidade!

Agora sim, o EPISÓDIO 14

Martim e Daniel mal ouvem a campainha, correm a esconder-se num armário que, convenientemente, se encontrava por perto. Farta de ouvir a campainha, Gisele deixa a Sssusana, para ir ver a porta. Gritar, para o Quim Zé abrir a porta, não é para uma rapariga da sua classe.

Gisele abre a porta, apenas para descobrir que era o moço das pizzas que ela e Martim tinham chamado anteriormente. Mal se apercebem disso, Martim e Daniel suspiram de alívio e saem do armário, mas quando Daniel Caralhadas sai, vê chegar Quim Zé e fecha o armário para que o Martim não saia.
- O que estás a fazer ai fora Quim Zé? Vais passear, com a Sssusana naquele estado!? -Pergunta Gisele, estranhando ver o namorado, já vestido e “bem vestido”, aparecer da rua.- Docinho, que estás para ai a falar?... não interessa, tenho um assunto urg... quem é este gajo? - Nesse momento, Quim Zé, repara em Daniel Caralhadas encostado ao armário.
- Ninguém, empadinha, é só um pedinte que veio trazer a Sssusana a casa, ela apanhou uma enorme broega. - Perante tais afrontas, Daniel Caralhadas, normalmente teria usado todo o seu património oral, mas estava demasiado ocupado a tentar manter Martim no armário. – A Sssusana está bêbada, e a vomitar o meu quarto todo, vamos leva-la para um sítio onde faça menos estragos. Talvez para a rua
- Se calhar é melhor, não queremos que ela nos estrague os lençóis de cetim mesmo muito bons da empresa mesmo muito boa que faz lençóis mesmo muito bons, pois não pastelinho? – disse Quim Zé preocupado.
- Caralho!! Mas vocês são pessoas ou uma merda de uma lista de pastelaria!? Não vão deixar a rapariga ao puto do frio naquele estado! Levem-na até ao caralho do meu carro, que eu trato dela em minha casa, o que não falta lá são poças de merda e vomitado!! – não achando necessário fazer qualquer tipo de comentário explicativo sobre quem proferiu estas frases, dado o conteúdo das mesmas, o narrador continua a descrever o resto da história.
Quim Zé e Gisele, prontificam-se a levar a Sssusana para o carro do Daniel, estavam tão ansiosos por se verem livres dela, que nem se perguntaram porque é que Daniel não se desencostava do armário para os ajudar.
Enquanto eles levavam a rapariga para o carro, Daniel aproveita para deixar sair o Martim do armário, atira-he as roupas e diz-lhe para se vestir a caminho de casa, que depois falam. Mas nesse momento chega Fifi Florzinha, que não conseguiu esconder a “excitação” de ver, o seu querido patrãozinho, como veio ao mundo e atira-se para os seus braços.
- Sai bichona!! – Diz Daniel, enquanto separa os dois, e deixa Martim fugir...

No bairro fétido, Tesus Apodrecido, “gratifica-se” pelo seu bom trabalho, mas não consegue parar de pensar na marmelada, como teria sido bom que o tal de Afonso a tivesse deixado ai, e no que teria feito com ela e a Connie.
- Olha querida! – diz ele - tava aqui a pensar na marmelada desse tal Afonso, que achas? – Connie ficou perplexa... não acreditava que o marido tivesse descoberto a sua mentira, nem percebia como é que este lhe perguntou como era a “marmelada” com o Afonso
- Não era boa... não me dava prazer. - Disse ela, com muito custo
Tesus estranha que o tal de Afonso a tivesse deixado provar a marmelada, sem a ter deixado ficar. Mas isso era irrelevante tal como o facto de a marmelada não prestar, Tesus estava com outras ideias para ela.
- Querida, não achas que podias trazer cá para casa, mesmo assim. Para variarmos um pouco nas nossas incursões secssuais. – Connie não podia acreditar no que ouvia. O marido para além de parecer indiferente a tudo o que se estava a passar, queria que Afonso Nãofaznenhum, viesse dar alguma variedade à sua vida secssual.
Connie resignou-se, aproveitou que o marido não tinha ficado chateado, e com medo que ao contrariar ele se zangasse com ela, acedeu a ir ter com o Afonso, após tantos anos
- Sim querido, eu vou a casa do Afonso. Se é mesmo isso que tu queres...
- Sim, mas vai depressa que já tenho a mão a coçar, para dar uns apalpões nesse rabo!
Connie não percebia, não estava a reconhecer este Tesus, não entendia como uma pessoa se podia revelar tão diferente, nunca esperaria esta reacção da pessoa que amava... lá seguiu o caminho de merda que dá para fora da lixeira, em direcção ao bairro Breeze, um caminho que tantas vezes tinha percorrido e que depois de ter ficado com o Tesus, esperava nunca mais o ter que fazer...

Wednesday, November 16, 2005

Episódio 13 - Barracada em casa de Gisele e Sssusana!

Afonso Nãofaznenhum, "abandonado" no seu apartamento realmente mesmo muito bom, concede a si próprio uns minutos de solidão reflexiva, seja lá o que isso for. Dirige-se ao seu spa privativo, enche a banheira com sais de banho com aroma a rosas, oferecidos por Fifi Florzinha no último Natal, com a seguinte dedicatória:
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Para o meu patrão... por ser um doce e por ter gerado a coisa mais preciosa da minha vida. Obrigados. Jokas do Fifocas, LOL ***
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Afonso pensou: Este rapaz é estranho, mas é realmente boa gente, nunca deixou de me agradecer pelo emprego que lhe dei, há muitos muitos anos. Afonso decidiu investir no ambiente do seu spa: baixou as persianas, acendeu umas velas que levou emprestadas do quarto de Fifi (e que ia jurar que eram 2 falos com pavios) e ligou um sonzinho, para que o relax fosse total. Ao som de "Aperta, aperta com ela", de José Malhoa, Afonso despiu-se energicamente, agitando as peles e enviando entusiasticamente beijos para o espelho. Já nu e claramente deprimido pelo seu reflexo, decidiu que ia aproveitar o banho de imersão, perfumado de rosas, para reflectir sobre o seu passado. Está na altura de tirar a máscara de repressão que coloquei, desde que ELA se foi embora.
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Em pleno Bairro Fétido, Connie espreitava Tesus por detrás da porta, como que avaliando se a desculpa do "Afonso da marmelada" tinha pegado. Tesus acabava de fiscalizar se o móvel em louça tinha ficado bem colado e tinha começado a "gratificar-se" a si próprio. Aparentemente tudo tinha voltado à normalidade, mas, apesar disso, o coração de Connie não parecia mais calmo. Não sei durante quanto tempo mais vou conseguir aguentar. Principalmente quando aquela gaja passa o dia a mandar papaias sobre o que aconteceu. Tenho de fazer qualquer coisa.
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Olivério sentiu-se, de repente, mais dono de si. Agora já só via Bianca Cristina de quatro, vestida de enfermeira, a miar para ele e a aproximar-se lentamente, enquanto ameaçava arranhá-lo com uma das suas "garras". Já não tinha instintos homicidas. O jovem apaixonado, à medida que a pastilha perdia o efeito sobre o seu sistema nervoso, ia tomando consciência de que não mais adoptaria uma postura de submissão para com a sua amada. Chega de alucinações, o Bairro Fétido vai conhecer um novo Olivério.
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Em direcção à casa de Gisele, qual meta a atingir, seguiam Daniel Caralhadas e Sssusana, Quim Zé e Fifi Florzinha. Os primeiros a chegar foram Daniel e Sssusana. Agarrada a Daniel, Sssusana indica a porta de sua casa.
- "É (hic!) aqui... - diz Sssusana, abanando a chave ao mesmo ritmo do das suas ancas - entra comigo.
- Não, caralho... não era capaz de me aproveitar de ti nesse estado... - responde Daniel, olhando para a rapariga de alto a baixo.
- Aproveitar?! Quem falou em aprovei... - diz, em seguida, Sssusana, desfalecendo de seguida.
Daniel Caralhadas, sem hesitar, trata de a pegar ao colo, pegar na chave e abrir a porta.
- Foda-se, só a mim é que estas merdas me acontecem. Caralhos me fodam, mas que mal fiz eu, que mais me irá acontecer?! - diz, sem saber que o que o esperava por detrás daquela porta daria uma certa pertinência à pergunta que acabara de fazer.
Ao entrar, cambaleante - afinal, apesar de bem mais sóbrio do que Sssusana, também tinha estado a mamar uns quantos finos... além disso, a gaja era pesada -, tentou avistar algo mole onde amparar Sssusana. Incrivelmente, os únicos sofás que via pareciam mover-se. Resolveu usar o tacto, como que a tentar pará-los. Foda-se, estas gajas devem ser podres de ricas, pensou, estes sofás só podem ser de seda, até parece pele de mulh... Nisto, surgem dois vultos por debaixo de Sssusana, um deles demasiado familiar.
- Mas o que é que aconteceu à Sssusana?!E... e ... quem és tu?! - diz Gisele, tapando-se com o resguardo do sofá e puxando Daniel em direcção ao quarto de Sssusana. Gisele sentiu uma pequena comichão. Nunca se tinha preocupado com ninguém, que não ela própria, até àquele momento.
- Er... ela bebeu uns copos a mais, caralho, vê lá... acontece! - respondeu Daniel, reconhecendo a mulher seminua que tinha à frente do Hospital Mais Próximo.
- Esta rapariga não tem classe nenhuma... onde é que já se viu... bêbeda! - resmungou Gisele, tentando pôr a amiga confortável e sem se aperceber que o estranho que tinha invadido a sua casa tinha abandonado o quarto.
Correndo para a sala, Daniel encara Martim.
- Tu és maluco, pá? Mas que puta de ideia é a tua? Tens de parar já com isto, meu broche! - pergunta Daniel Caralhadas.
- Eu disse-te que vinha à procura dela! Qual é o mal?! Ela também gosta de mim! - responde Martim, surpreendido com a reacção do amigo.
- Cala-te, meu merdas, ela pensa é que tu és o namorado dela, caralho!!! - grita Daniel - Vamos é abalar daqui!
Entretanto, alguém toca à campainha e Martim nem tem tempo para pensar no que o amigo lhe tinha acabado de dizer.
- E agora, meu caralho? Espero que tenhas uma boa ideia!!!
Tarde demais. Os dois tinham de pensar rápido.

Saturday, November 12, 2005

Episódio 12 - O encontro iminente

Enquanto chapechapava as partes íntimas, Connie tentava descobrir porque raio tinha gritado o nome de Afonso a meio da quarta investida do marido no último quarto da hora da quarta sessão da tarde, “- É inexplicável, ele nunca me satisfez! Sempre que fazíamos sexo eu adormecia a meio, ou então ele. Foi um milagre os gémeos terem nascido!”. Assim que acaba de proferir as últimas palavras Connie é apanhada de surpresa por Tesus: “- Gémeos? Quem é que tem gémeos?”. Com uma cara completamente de parva, Connie tenta insinuar-se ao marido sabendo perfeitamente que este tem muitos problemas com a memória a curto prazo e, com uma probabilidade muito elevada, nos próximos segundos poderia esquecer-se das palavras dela “Já me basta ter falado no Afonso!”, pensa. À medida que se aproxima do marido, Tesus começa a derreter-se, no entanto, ambos são apanhados de surpresa quando, repentinamente, por trás de Tesus surge Maluca que profere as seguintes palavras: “- Se não tiveres roupa interior, não te adianta nada tapar as mamas com a saia. Para além disso, mais depressa se apanha um coxo que um mentiroso.” Da mesma maneira que surgiu, e enquanto Connie e Tesus olham estupefactos um para outro, Maluca põe-se a milhas. Pensando para si própria, Connie encontra a solução para o seu problema “De certeza que agora não se vai lembrar de me perguntar pelo Afonso. Ehehehe.” Segundos depois Tesus vira-se para a mulher: “- É verdade, já me ia esquecendo, quem é esse tal Afonso.”. As primeiras palavras na cabeça de Connie “Merda…” “- É um amigo do teu filho que veio cá deixar marmelada hoje de tarde para ele. Quando távamos em cima da mesa da cozinha apeteceu-me marmelada e lembrei-me que devia ter dito ao puto para a deixar cá de qualquer maneira” “- Mas Connie, tu agora pensas em comida enquanto damos uma voltinha pelo mobiliário da cozinha? Mas eu já não te satisfaço?” “- Não é nada disso fofinho, imagina só o que podíamos fazer com a marmelada…”. Subitamente mais bem disposto, Tesus, ainda um bocado desconfiado, vai na onda da mulher e dispõe-se a ver se a cola mesmo muito má que tinha usado para colar os bocados do lavatório, desfeito na actividade principal do casal, tinha servido o seu propósito.

Mesmo ali ao lado, na lata vizinha, Olivério tinha visões com Tininha. A cara de parvo que estava a fazer era vislumbrada por Paulo Charras através da névoa que só ele conseguia ver, enquanto continuava a rir compulsivamente. Olivério estava estupefacto, depois de ter ouvido as palavras de Maluca muito distantes, quase como vindas do outro lado do monte de lixo, do lado esquerdo da Rua Podre, rua principal do Bairro Fétido. Só conseguia ver à sua frente a cara ensanguentada do amor da sua vida, e umas gargalhadas maléficas que pareciam vir de dentro da sua cabeça. “- Eu salvo-te Tininha, eu levo-te para o hospital!” “- A culpa é tua cabrão, desaparece da minha vida! Mata-me de uma vez!”. Decidido a cumprir os desejos de Bibi, Olivério, depois desta ter desaparecido, levanta-se do chão e dirija-se à sua cozinha. Agarra numa faca e grita em voz alta: “- Eu mato-te! Se é isso que queres eu mato-te!”. Numa lata próxima, à janela, Paulo Charras ouve o grito e diz “- Fodasse, a mim as pastilhas nunca fazem aquilo… merda…” .

Já quando a noite se estendia pelas ruas chiques e mesmo muito bonitas do Bairro Breeze, o Dr. Afonso entra em casa. Fifi Florzinha, que exibia um sorriso de orelha a orelha quando ouviu a porta da entrada a abrir-se, reduz a extensão de abertura dos lábios para zero ao ver que o menino Quim Zé não se encontrava com o patrão. “- Acho que foi com a namorada, nem o vi a sair, tal foi a pressa dele.”, quando se volta para para trás de forma a pedir a Fifi que lhe leve um cházinho ao escritório, Afonso vê a porta da entrada a fechar-se e olha para o chão onde encontra um papel com o seguinte escrito “fui ali e ainda não vim”. À medida que se afasta do hall de entrada murmura “- Sim, muito másculo…”.

Fifi certo de que o par de noivos que ele mais detesta à face da terra (o par, não o noivo…) teria ido para o apartamento da lambisgóia para continuar o que ele havia interrompido durante a manhã, mete-se no carro e dirige-se para o apartamento pecaminoso, como tão carinhosamente fazia questão de chamar à morada de Gisele.

Depois de ter ido à casa de banho limpar a baba que, efectivamente, tinha escorrido por todo o fato quando viu em palco as actuações de Madonna e Shakira, Quim Zé olha-se ao espelho e pensa: “Tenho mesmo de ir pintar o cabelo, já se começam a ver as brancas…” Para além disso pensa também: “Aconteceu-me qualquer coisa quando ia entrar aqui… Ah… já sei.” E em voz alta repete “- O papel!”. Um homem que, ocasionalmente tinha entrado ouve as palavras de Quim Zé “- Qual papel?” “- O papel.” “- Qual papel?” “- Não interessa.” (qualquer semelhança entre este diálogo e outra coisa qualquer é pura coincidência...). Sai da casa de banho apressado e mete-se no carro com a certeza de que no caminho para casa de Gisele se iria lembrar de qual era o aviso do primeiro bilhete de aviso. Sim, Quim Zé ia a caminho da casa de Gisele, afinal, eles são noivos.

Na merda do Bar da Esquina, quando os empregados do bar já começavam a varrer para debaixo da mesa onde se encontravam Daniel e SSussana, este pede mais dois finos. Ofuscado pela beleza da mulher que estava à sua frente, e embora sabendo que esta se encontrava podre de bêbeda, não conseguia parar de estar ao lado dela. A sua presença era mágica e Daniel, de tanto a ouvir falar já tinha começado a pronunciar determinadas palavras com esssses a mais. Não fosse o facto de SSussana o ter empurrado para uma mesa e se sentado no colo dele, sítio onde actualmente se encontrava, Daniel nunca teria ficado a saber que a melhor amiga desta, uma tal de Gisele, andava toda excitada com o renovado cheiro fedorento do seu noivo, e que toda a gente cagava para SSussana. Daniel, inebriado pelas palavras daquela mulher, mais não fosse pelo hálito intoxicado de álcool que ela apresentava, decide levá-la a casa depois de esta, muito dificilmente ter conseguido pronunciar o nome do sítio onde morava. Depois de pagar a conta com os últimos trocados da carteira, mete SSussana no carro e começa a conduzir. O que Daniel não sabia, era que SSussana estava actualmente a morar com Gisele.

Thursday, November 10, 2005

Episódio 11 - Drogas, Sexo e Rock 'n Roll!

Connie e Tesus tinham finalmente acabado o servicinho. Enquanto Connie tentava, sorrateiramente, escapar ao inquérito do segundo marido, dizendo que tinha de ir fazer um chap chap, Tesus estava entretido na cama, a fumar uma beata que tinha encontrado por ali. Mas quem será esse Afonso? Não me digam que esta gaja me anda a por os cornos?! Mmmm... Ventil, que sorte que tive!
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Sssusana entra na Merda do Bar da Esquina disposta a esquecer que o mundo cagava para ela.
- Um fino, ssse fazzz favor, e pode já ir tirando outro... eu vim para ficar! - disse, com o tom de voz baixinho habitual.
Nesse momento, Daniel Caralhadas entra no bar, farto de não entender as papaias (ou não) de Maluca. Os seus olhos cegaram. Indiferentes a tudo o resto e ofuscados pelo o que deveria ser a beleza de Sssusana, Daniel nem uma caralhada conseguiu dizer. Os elegantes movimentos de Sssusana a levar o copo ao encontro dos seus lábios húmidos provocavam-lhe um vazio mental inexplicável. Após os 5 minutos de estagnação à porta da Merda do Bar da Esquina, percebeu o que estava a sentir. Aí, sim, pôde finalmente libertar algum stress em forma de palavras. Então é esta puta de sentimento que está a deixar o Martim meio maluco!!! Caralhos me fodam, também fui apanhado!
No meio das caralhadas, pensou que, em vez de estar ali com merdas, devia era estar a arranjar forma de se sentar na mesa de Sssusana. Mas não foi preciso. O álcool que a jovem já tinha injectado no sangue foi suficiente.
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Olivério queria morrer. Pela primeira vez na vida, sentia que quando o resto do bairro o chamava de otário, era mesmo a sério. Ao ver passar por ali Maluca e ao olhar um pouco mais para cima, para a janela de Paulo Charras, pensou que, se alguma coisa não mudasse de vez na sua vida, o seu destino não iria ser mais feliz do que o daqueles seus dois vizinhos.
Paulo Charras pressentiu a tristeza no olhar do amigo e quis ajudar.
- Olivério, ma man... então... 'tá-se ou não?! - interpela Paulo.
- Não 'tou muito bem, não... - responde Olivério, completamente acabado.
- Olha lá, queres uma pastilha para animar? - disse Charras, atirando, lá de cima, uma pastilha de aspecto bizarro para as mãos de Olivério.
- Obrigados, pá... tava realmente com uma secura na boa... - disse Olivério, lembrando-se que aquela secura talvez tivesse algo a ver com as lágrimas que tinha chorado.
- Então bebe um pouco de água... - disse Charras, com um sorriso maroto.
Sem se aperceber, Olivério leva demasiada água à boca e engole a pastilha. Não foram precisos mais do que uns segundos para Olivério começar a sentir que aquilo não era nenhuma pastilha Gorila. Enquanto Paulo Charras ria compulsivamente - e talvez até nem fosse da situação em que o amigo se encontrava -, maluca rodeou Olivério e começou a dançar à volta dele, enquanto batia na boca como os índios e dizia, ao mesmo tempo: "Mata-a... no teu coração, Bianca bruxa... a efémera... dia de vida... que ela se importa?... um bocadinho! Martim não é filho... de Tesus"
Será que o que Olivério tinha posto no buxo e a habitual dose de Paulo Charras, os fariam lembrar do que Maluca tinhaacabado de dizer?
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Quim Zé sentiu-se estúpido quando chegou ao Pavilhão Atlântico e se viu rodeado de adolescentes. Tentou auto-confortar-se: Tinha de vir para aqui cedo, senão como é que arranjava lugar lá à frente, para ver bem a Madonna e a Shakira?!
Mais tarde, quando lhe pediram o bilhete, Quim Zé entrega outro papel por engano.
- Mas tá a gozar comigo? Aqui só bilhetes oficiais! Que raio... agora já nem se dão ao trabalho de falsificar os bilhetes... tss tss! - diz o empregado que conferia os bilhetes.
"Porra, mais um?!", pensa Quim Zé. Abriu o bilhete e então leu:
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"Tu és chatinho, pá! Então eu andei a gastar papel e caneta para quê? Não te fiz um aviso? Um aviso é um conselho, uma advertência, uma admoestação. Mas, afinal, que parte da palavra AVISO é que tu não percebeste? LOL Nem sequer me vou dar ao trabalho de repetir o aviso. Mas eu ando a roubar dinheiro?! Deves pensar que eu sou rico como tu para andar a escrever bilhetinhos destes a toda a hora. Não chegou um aviso?! Tinhas de me fazer gastar mais um papel! Eu que faço tudo por tudo para economizar papel... Que isto te sirva de lição, ãh? Isto é mesmo um aviso. O mesmo que te fiz no primeiro bilhete, porque não posso desperdiçar mais espaço neste papel. Já sabes. Pensa bem. Não posso voltar a escrever aqui qual era o aviso, por isso, estou a contar que te lembres do primeiro aviso. Vá, não sejas chatinho. Lembra-te lá. É que já não tenho mesmo espaço. Tás avisado, pela segunda vez, ok? Se não te lembrares do que te avisei da última vez é um pouco aborrecido para mim. Beijinhos fofos*** "
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Mais uma vez, Quim Zé sentiu-se perturbado com aquele papel. Sentiu-se até culpado. Não se lembrava do que dizia o primeiro papel. Oh, depois penso nisso, pensou, a Madonna vai entrar! Quando a diva da pop entra em palco, em frente a todos aqueles milhares de pessoas, Quim Zé sente que deveria estar a fazer outra coisa qualquer. Mas que raio, o que é que me pode ter passado ao lado? O barulho da multidão rapidamente o fez esquecer das preocupações e maus pressentimentos. Ele estava nos MTV Music Awards. Que mais poderia interessar? Não é que fosse perder alguma coisa por ali estar... ou então sim...
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A alguma distância dali, a namorada de Quim Zé transformava todas as suas recordações sobre o namorado. O "Quim Zé" com quem partilhava aquela cama era mais meigo, mais atento, mais apaixonado e... mais fedorento. Meu Deus, que paixão... eu sei que sou boa, mas é como se fosse a primeira vez que está a olhar para o meu corpo nu... Surpreendendo-se a si própria - ou não fosse ela uma Barbie mesquinha e fútil -, Gisele sentiu-se mais excitada do que nunca. O cheiro dele, as mãos encardidas... o cabelo a cheirar a lixeira... tudo aquilo transportou-a para um cenário de amor completamente diferente daquele a que estivera habituada durante todo os meses anteriores de namoro. E isso, apesar dos odores, era bom. Ultimamente, a relação tinha entrado na rotina.
Os olhos esbugalhados de Martim diziam tudo. De repente, era como se tudo tivesse todo um novo sentido. O sussurrar tivesse ganho doçura, a pele tivesse agora toda uma nova função... era como se amar agora tivesse começado a ser algo mais do que ver os pais a pôr a mesa da cozinha a chiar.
Sem conseguir deixar de sentir-se completamente extasiado, Martim soube que aquilo era tão certo, como errado.

Friday, November 04, 2005

Episódio 10 - A segunda pele de Martim

Ao mesmo tempo que caminhava para o carro, Quim Zé só conseguia pensar nos MTV Music Awards, mas sentia que a verdadeira razão pela qual tinha saído da empresa era outra. Só não se conseguia lembrar qual. Enfim, talvez quando estivesse a ver ao vivo a Madonna ou a Shakira se conseguisse lembrar, “Pena que não fechem a entrega dos prémios com uma banda portuguesa. Que mau não termos bandas com visibilidade suficiente para actuarem num palco de Lisboa. Que caraças!”

Ao subir o elevador, Martim sentia-se a caminhar para o seu destino. Não fazia a mínima ideia do que iria encontrar quando chegasse ao último piso, mas de certeza que não iria ser os seus pais semi-nus em cima da secretária de uma qualquer assistente a testar a suavidade do carvalho. Isso já o deixava muito feliz.

Assim que pôs os pés fora do elevador, foi recebido por uma mulher com um sorriso que lhe corria de orelha a orelha. “- Ainda bem que mudou de ideias Sr. Quim Zé. Ah! Não acredito!”. Com uma grande cara de parva, a mulher, mesmo muito bem vestida, fitava Martim com um brilhozinho nos olhos. “- Sr. Afonso, venha cá ver isto!”. Martim dobrou a esquina do corredor e deu de caras com um homem sofisticadamente vestido com feições que o faziam recordar a sua própria imagem. “- Quim Zé? Mas… Meu filho, és um génio! Como é que te foste lembrar! Claro, vestido porcamente os chefes da Lixeira Municipal irão sentir-se muito mais identificados connosco, podendo nós chegar a um acordo muito mais rapidamente e sem trabalho algum!”.
Martim tinha ouvido falar pelos cantos da Lixeira sobre a Multinacional com ideias para revitalizar o Bairro. Esquecendo-se por instantes da verdadeira razão que o tinha levado ali, começou a construir ideias sobre como, na pele do tipo Quim Zé, poderia contribuir para melhorar o estilo de merda de vida levado por si e por todos os seus amigos.

Enquanto Martim se encontrava fechado na sala de reuniões com aquela cambada de desconhecidos, outra pessoa acompanhada da sua grande amiga SSussana dava entrada no edifício. Gisele, planeava encontrar-se com Quim Zé assim que a reunião terminasse de forma a almoçarem juntos ou quem sabe continuarem a bela sessão de amasso caseiro que haviam protagonizado no sofá da sala, antes de serem bruscamente interrompidos pelo másculo mordomo Fifi Florzinha.

Ao descer o elevador Martim sentia-se ridiculamente poderoso. Tinha vestido uma pele que não era a sua, que não fazia ideia de quem era, e, perante o olhar estupefacto do tal Sr. Afonso, tinha tomado conta da reunião e virado as cartas a favor dos homens da lixeira. Estava agora nas mãos dos seus chefes uma quantidade mesmo muito grande de dinheiro para revitalizarem o Bairro que rodeava a Lixeira. Martim sentia também alguma incompreensão relativamente ao brilho nos olhares dos chefes da lixeira quando se viram a mãos com o cheque preenchido pelo tal Sr. Afonso.
Já perto da recepção volta a ouvir aquela voz melodiosa, com um tom nasalado, afunilado e estridente. “- Quim Zé!!” Volta-se para trás e a mulher que tinha assombrado os seus sonhos após aquele beijo húmido na merda do bar da esquina, espeta-lhe outro beijo, muito mais prolongado e muito mais saboroso que o anterior. Sem o deixar falar, a mulher arrasta-o até ao parque de estacionamento. “- O teu carro Quim Zé? Não interessa, vamos no meu! Vamos para minha casa, não quero o Fifi a incomodar-nos!”. Com a estranha sensação de que se abrisse a boca iria estragar tudo, Martim, após ter sido violentamente apalpado pela estranha mulher que lhe sussurrava constantemente ao ouvido “- Que boa surpresa fofinho! Já tas a beijar outra vez muito bem!”, entra no carro e segue com ela.
À entrada da empresa SSussana SSantoss SSilva diz de si para si: “- Fodassse, aquela porca é messmo ssacana! Deixou-me aqui ssozinha ssem me dizer nada! Eu nem ssei porque continuo amiga dela! Vou mass é à merda do Bar da Esquina beber um finito, asssim ali ninguém me chateia.”

No Bairro Fétido, depois da confusão entre Olivério e Bianca Cristina, Daniel Caralhadas, que, depois de Martim lhe ter espetado a peta de que não ia trabalhar, havia voltado para casa com a desculpa de que ele também não se sentia bem e “tava quase a dar ao caralho do grego!”, decide ir até à merda do Bar da Esquina, farto da burrice de Olivério e respectiva estupidez de Bianca Cristina “Vou mas beber uma puta duma cerveja que este caralhos de merda não me fazem nada bem aos intestinos!”. A caminho da merda do Bar da Esquina, atravessa-se no seu caminho Maluca, com a baba da cuspidela que tinha mandado a Martim já seca no queixo. Tentado a interpelá-la de forma a descobrir alguma coisa mais do que ela havia dito ao seu amigo, Daniel ouve da boca dela a seguinte frase: “- É o que dá sentares-te em cima de cubos de gelo, ficas com as bochechas do cú tão frias que nem sabes se a diarreia já passou.” Daniel, desapontado consigo mesmo por ter sequer esperado que a “desgraçada da vaca cuspideira” fosse pelo menos uma vez na vida fazer sentido, reinicia a caminhada, quando, repentinamente leva um beliscão no rabo “- Humm rabo jeitoso!” exclama Maluca, “- À sua filha da puta!” grita Daniel já pronto para lhe espetar o belo do bofardo, quando esta grita mais alto “- Olhos trocados mas pai igual! Mal-criado de confiança!” E desata a correr. “Ó que caralho, fodasse! Não bastava levar um beliscão de merda ainda me chama mal criado, aquela fedorenta!”

Thursday, November 03, 2005

Episódio 9 - Está tudo doido!

Na lixeira, corria um vento de mudança. Era como se, desde a quase-revelação de Maluca, o Bairro Fétido nunca mais tivesse sido o mesmo. Está embruxado, pensavam muitos dos seus habitantes.
Connie e Tesus Apodrecido cumpriam o objectivo habitual e tudo corria bem, até que...
- "Sim, Afonso... siiim!" - gemeu Connie, sem se aperceber do que dizia.
- "Quem?'' Afonso?! Quem é o Afonso?!" - refilou Tesus, sem nunca parar o que estava a fazer.
- "Brincadeirinha, amor?!" - tentou Connie, abraçando Tesus com ainda mais força, como que a tentar fazê-lo esquecer o que tinha dito.
- "Minha menina, quando acabarmos o servicinho, vamos ter uma looonga conversa!" - disse Tesus, em tom de ponto final.
Connie assentiu, assumindo que tinha feito asneira. Como me vou livrar desta agora? Será que devia contar-lhe a verdade? Bem, agora não há nada a fazer, mais vale aproveitar o momento.
__
Mesmo ali ao lado, estavam Bianca Cristina, Olivério e Daniel Caralhadas, este último completamente revoltado por estar a assistir a mais uma cena entre aqueles dois.
- "Olivério, tu gostas mesmo de mim, não gostas?" - perguntou Bianca Cristina, com um pestanejar ganancioso.
- "Gosto, gosto, gosto!!! Gosto muitíssimo!" - respondeu o otário do Olivério.
- "Óptimo, porque eu..." - diz Tininha, interrompida pelo apaixonado.
- "... porquê? Tu também gostas de mim, é?! Eu sabia!" - diz Olivério, de repente cheio de esperança.
- " Não desconverses. Eu preciso de um telemóvel..."
- "Eu dou-to. Fica com o meu" - e Olivério entrega-lhe o seu telemóvel, comprado com 6 meses de trabalho como engraxador, tentando tocar com a sua mão na de Bianca.
Mal tem o telemóvel em sua posse, Bianca vira costas a Olivério, retira um papel do soutien e toca a marcar o número do engate do Hospital Mais Próximo.
- "És mesmo um tótó! Essa vaca mal tem o que precisa, caga logo para ti! Vê lá se acordas, porra, é demais!!!"- resmunga Daniel Caralhadas.
Olivério lança um olhar a Daniel, como quem diz: Vou-te já mostrar que não tens razão.
- "Bibi Titi? Podíamos ir dar uma volta só os dois..." - diz Olivério, num tom carinhoso.
- "(gargalhada) Tás doido?! Preferia morrer a ter de ser vista contigo, até aqui nesta lixeira!!!" - responde friamente Bianca Cristina, que sai imediantamente dali, para falar ao telemóvel:"Tou? Olá gatinho... lembras-te de mim?"
Olivério ia jurar que viu o seu orgulho cair desamparado no chão. Daniel Caralhadas disse entre dentes "G'anda vaca!" e deu uma pancadinha nas costas de Olivério. Em seguida saiu dali, dizendo "Eu bem os aviso... que caralho... mas ninguém me ouve... que puta de vida!"
Será que é desta que Olivério vai abrir os olhos?
___
Martim estava diante da porta dos escritórios Nãofaznenhum. Vou entrar, pensou, eu tenho o direito de saber a verdade. Entrou nas instalações, envergonhado, e dirigiu-se à recepção. A recepcionista já sorria para ele, estava Martim a 10 metros. Estranho, pensou. Achou ainda mais estranho o facto de todas as pessoas por quem passava o cumprimentarem. Só posso estar no sítio certo.
- "Bom dia, menina, é capaz de me dizer onde posso encontrar o Dr. Quim Zé Nãofaznenhum, por favor?" - perguntou Martim.
A recepcionista não pôde evitar rir. Os ricos são mesmo maluquinhos, pensou para si mesma.
- "Sempre engraçado, Dr. Quim Zé, aha ahah, o seu pai espera-o na sala de reuniões".
Martim apercebeu-se do que estava a acontecer, mas não esqueceu o objectivo. Sala de reuniões, onde ficará isso? Rapidamente os seus olhos encontraram a indicação na parede: "Sala de reuniões - último piso". Resolveu tomar as escadas; sentiu que estar dentro de um elevador com gente "conhecida" poderia ser constrangedor demais. Mal pôs o pé na escada, ouviu-se o Tlim! do elevador que descia. A recepcionista não queria acreditar no que via. Preciso de férias, pensou.
- "Dr. Quim Zé, onde vai desta vez? A reunião está prestes a..." - a recepcionista sentiu que as suas palavras tinham sido ditas em vão... e calou-se.
- "Belinha, diga ao meu pai que fui ver os MTV European Music Awards!"- rematou Quim Zé, sem sequer olhar para ela.

Wednesday, November 02, 2005

Episódio 8 - A vida dupla

O maior flashback alguma vez visto
Nascida numa família de podres de rico, Maria Aparecida vivia uma vida de desespero com o seu esposo, Afonso Nãofaznenhum. Afonso não a satisfazia sexualmente. Por esta razão, Maria Aparecida, desaparecia de casa todas as noites para vaguear pelos trilhos de merda da lixeira Municipal à procura de alguém que satisfizesse os seus desejos e fantasias. Não querendo passar uma imagem demasiado impura de Maria Aparecida, vamos só dizer que nunca conseguindo encontrar o nirvana sexual com o/s homem/ens que conhecia (pouquitos…) Maria Aparecida continuava à procura, até que um dia, no Bairro dos Fedidos, aflita para dar uma mija, Maria bate à porta de uma qualquer lata.
“- Sim?
- Desculpe senhor, estou muito aflita, precisava de usar a sua casa de banho.”
Naquela altura, o Bairro dos Fedidos não era o luxuoso complexo habitacional com rede sanitária instalada que é nos dias de hoje. Por esta razão a resposta à pergunta inocente de Maria foi uma sonora gargalhada vinda do interior da porta entreaberta da lata.
“- Ó minha senhora, você não reparou onde tá, pois não? Quer mijar ou cagar vá atrás do monte. Acha que este cheiro vem de onde. Das nossas casas de banho refinadas não é de certeza.”
Tentando identificar quem falava com ela, Maria escancara a porta da casa de lata, um homem, esculturalmente esculpido encontra-se em pé no meio da sala. Maria, sem conseguir resistir, atira-se para os braços dele.
Deitados na cama, os dois amantes suspiram.
“- Ei lá miúda, nem sequer sei o teu nome.
- E eu também não sei o teu.
- Apodrecido…
- Eu não reparei nisso…
- Tesus Apodrecido. E tu?
- Eu?
- Sim caralho, não vejo aqui mais ninguém!”
Já desenhando na sua cabeça uma vida de felicidade ao lado de Tesus, Maria responde:
“- Connie. E se quiseres Connie Apodrecido!”
Desaparecida de casa por duas semanas, Maria volta. No entanto, esquece-se de contar ao marido que tinha adoptado o nome de Connie Apodrecido e era agora também casada com Tesus Apodrecido.
Iniciando um longo caminho de vida dupla, Maria/Connie, vivia um dia com Afonso e outro dia com Tesus inventando constantemente desculpas a cada um. Até ao dia em que descobre que está grávida, e grávida de gémeos. Um bocadinho preocupada com o facto de não saber quem era o pai das crianças, Maria/Connie toma uma decisão, “- Eu amo Tesus, vou desaparecer da vida de Afonso. Vou levar um gémeo comigo e vou deixar outro com Afonso.”
Maria/Connie decidiu, assim, ter os filhos no Hospital Mais Próximo, e, quando a deixassem sozinha no quarto com as crianças, desapareceria para sempre da vida de Afonso levando um filho com ela.Connie, prosseguiria uma vida sem mentiras ao lado de Tesus, podendo, deste modo, ter todo o sexo que quisesse a qualquer hora do dia.
Naquele dia, o céu estava escuro, já era de noite. A caminho do hospital Connie preparava-se para se despedir definitivamente de Maria. No quarto do hospital, já a ter as crianças, a única coisa que lhe passava pela cabeça era o quanto feliz Tesus ficaria com o bebé. Isso e as “putas das dores que nunca mais acabam!”. Sim, ela cagava um bocado para Afonso.
Já com Martim nos braços, Connie foge do hospital em direcção à lixeira. No entanto, nessa noite, não é só Tesus a ser surpreendido com um come-fraldas. Connie também fica um bocado lixada quando lhe roubam o filho. No entanto, pensando para si, tenta ver o lado positivo da coisa: “Também, é melhor assim, aqui o pessoal não tem carcanhol e não!”. Mas as surpresas não acabam por aqui! Ao passear com o seu agora único marido Tesus, Connie volta a encontrar uma criança. Ao ver que se tratava na mesma de seu filho, por causa das cores dos olhos, Connie pensa “Xiça, que estranho, então roubam-me o pirralho e põem-no aqui outra vez?” Não se apercebendo de que não se tratava do mesmo bebé que tinha trazido do hospital, mas sim Quim Zé, a criança que supostamente ficaria com Afonso.
No Hospital Mais Próximo, Afonso recebe três trágicas notícias, a primeira de que seu filho Martim tinha desaparecido, a segunda que também seu filho Quim Zé tinha desaparecido, e a terceira de que agora também sua mulher tinha desaparecido. Infelizmente, apenas “Quim Zé” apareceu, perdido num outro berço. Chateadito com o facto de só lhe terem encontrado um filho e convencido de que sua mulher voltaria depois de algum tempo, tal como tinha feito tantas vezes antes, Afonso caga no assunto. E a melhor maneira que Afonso arranja para cagar no assunto é, nada mais nada menos, dando a bela da queca (rápida… mt rápida…) no armário das vassouras do hospital com a sua amante, Fernanda Dissimulada, uma das enfermeiras de serviço naquela noite.
Não reparando na cor trocada dos olhos do bebé que tem nos braços Afonso, vai para casa pensando que leva o filho Quim Zé.

Tuesday, November 01, 2005

Episódio 7 - Martim no bairro cheiroso

Flashback:
- Sr. Dr. Nãofaznenhum? - lançou a enfermeira para o ar, com os olhos esbugalhados.
- Oui, c'est moi... (hic!)- disse Afonso, soluçando, visivelmente embriagado.
- Encontrámos o seu bébé. Ao que parece, o malandro saltou para um dos berços vizinhos... ah, e arrancou a pulseira com o nome.
- É, tu sabes tudo! Não goze comigo. Posso estar bêbedo, mas sei perfeitamente que os bébés quando nascem são todos iguais. Parecem raaaaaaatos... - disse, deitando a língua de fora - São todoooooooos iguais... Não me goze... não me goze! - finalizou, encostando-se a Fernanda, nauseada pelo cheiro a álcool da boca do amante.
- Senhora enfermeira, o Dr. Afonso está embriagado, mas até ele sabe que os recém-nascidos são todos muito parecidos. Principalmente, - disse, aumentando o volume e sorrindo sarcasticamente, como quem diz "toma, embrulha" - quando nem sequer trazem a pulseira identificativa...
- Sim, de acordo. Mas isso deixa de ser um problema quando se trata de um bébé com um olho de cada cor! - ripostou a enfermeira, com um ar vitorioso.
Após as palavras da enfermeira, Afonso Nãofaznenhum percebeu que a sua bebedeira tinha chegado ao fim. Incrédula, Fernanda Dissimulada não conseguiu dizer uma só palavra.
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Martim ou Quim Zé - perguntou Martim a si próprio, sentindo-se de repente, completamente despersonalizado - Quem sou eu, afinal?
Faltando muito pouco para chegar ao Bairro Breeze, Martim estava ainda espantado pela clarividência anterior, que lhe havia indicado aquela fina urbanização, realmente mesmo muito boa, opá, mesmo do melhor que há. Alguma coisa dentro de si lhe dizia que estava certo. Aquele bairro tem as respostas de que preciso, pensou.
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A poucos metros de Martim, Quim Zé queimava os últimos minutos antes da tão aguardada reunião, com pensamentos de duas palavas: "Ela, quem?", esquecendo, por momentos da relevância do que o esperava."Como fazer das lixeiras um local melhor” era o projecto mais importante em que Quim Zé entrava, desde que Afonso resolvera iniciar a integração do filho nos negócios da família, como futuro herdeiro e dono do império NãoFaz nenhum. Tratava-se de uma empresa realmente mesmo muito boa de Construção Civil, que tinha sido indesejavelmente incluída no rol de empresas "não amigas do ambiente", devido aos restos de materiais de construção e de entulho proveniente de casas implodidas, que depositava para a lixeira municipal. Como Afonso tencionava concorrer para a Presidência da Câmara daquela cidade, rapidamente foi aconselhado a limpar a sua imagem relativamente às lixeiras. Tenho de fazer alguma coisa que conquiste a maioria dos eleitores. Até os da lixeira. Tentando compor-se do arrepio de nojo que sentiu ao pensar em cumprimentar as velhas da lixeira com 2 beijos, para lhes ficar com os votos, Afonso Nãofaznenhum decidiu que aquele projecto era fundamental para que o seu real rabo se sentasse na cadeira municipal.
A reunião estava prestes a começar começar.
- Doutorzinho Nãofaznenhum? O seu pai espera-o para uma última troca de impressões antes de chegarem os representantes da lixeira e a comunicação social - anunciou a secretária de direcção do Presidente, Afonso Nãofaznenhum, pensando "anda lá, mexe esse cu, lambão de merda!".
- Quem é ela, mas quem é ela?! - disse Quim Zé, incapaz de controlar qualquer vocábulo que saísse naquele momento.
- Como disse, doutorzinho?! - disse a secretária, abanando a cabeça, confusa.
- "Já vou, Bela! Já vou, Bela! Foi o que eu disse... eheh!" - respondeu, atrapalhado e com um sorriso amarelo.
De repente, algo mudou dentro da cabeça de Quim Zé. E então, raciocinou. Quem é ela? Quem é ela?! Quem é que há-de ser? Até parece que nesta novela tenho muitas mulheres na minha vida!!! Temendo o pior, Quim Zé correu ao encontro de Gisele. Na sua cabeça, só um pensamento imperava. E esse pensamento não continha a palavra "reunião".
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À porta da empresa estava agora Martim. É agora, pensou, agora vou tirar todas as dúvidas.