Episódio 6 - Revelações
Dentro do carro mesmo muito bom de Afonso Nãofaznenhum, este, acerta os últimos detalhes com o seu filho, antes de se reunirem com os donos da lixeira municipal para chegarem a um acordo no projecto “Como fazer das lixeiras um local melhor”.
“- Então Quim Zé, já sabes quando abrir a boca, não sabes?
- Sei, nunca.
- E sabes o que dizer caso tenhas mesmo de abrir a boca?
- O objectivo final são vocês, tudo o que se fizer são vocês que o fazem, porque o interesse é vosso.
- Óptimo. Olha lá, não tens vestido o mesmo casaco que tinhas ontem?
- Tenho, porquê?
- Quim Zé, por alguma razão somos podres de rico. A principal é podermos vestir roupa diferente todos os dias.”
Relembrando os acontecimentos do dia anterior, Quim Zé mete a mão no bolso esquerdo do casaco e retira o papel que tinha encontrado nas calças. Abre-o e lê-o, julgando tratar-se de um dos caprichos da noiva.
“Esta mensagem é um aviso. Simplesmente um aviso. Podia avisar-te de outras maneiras. Escolhi uma mensagem. Escrita num papel. Simples e directa. Directa ao assunto. Assunto que tu não vais gostar. Gosto que eu vou querer que tu não tenhas. Podia ter-te ligado. Mas não liguei. Escrevi-te uma mensagem. Não um fax, não um mail, uma mensagem. Uma mensagem que é um aviso. Simplesmente um aviso. Podia avisar-te de outras maneiras. Escolhi uma mensagem. Como já tinha dito. E como já estou a ficar sem papel, vou-te avisar. É bom que fiques avisado. Não quero ter de escrever um aviso outra vez. Considera-te avisado.” Perturbado pelo conteúdo do papel, e mais perturbado ainda pelo facto de não ter percebido do que estava a ser avisado, Quim Zé vira a folha de papel amarrotada e lê as costas: “Esta mensagem é um aviso.” Oh não, pensa Quim Zé, outra vez não. “Afasta-te dela.” Quim Zé, pensando que podia ter poupado muito tempo lendo simplesmente a parte detrás do papel, repete para si próprio: “Ela, ela quem?”.
No Bairro Fétido, Martim, fita Maluca à medida que esta desaparece por entre os montes de lixo. Sempre pensado nas suas palavras, "Ai o segredo, o segredo acordou... Maluca sabe segredo!!!", dirige-se para o Hospital Mais Próximo, deixando a confusão do Bairro Fétido para trás.
Na recepção, Martim tenta descobrir quem era a mulher misteriosa que tinha sido atacada pelo cão raivoso no dia anterior.
“- Sr. Quim Zé? De volta? Algum problema?
- Quim Zé? Eu não me chamo Quim Zé.
- Não? Mas olhe que é a cara chapada dele. Tá um farrapilho hoje, mas é a cara chapada. Tem a certeza que não é o Sr. Quim Zé Nãofaznenhum?
- Nunca ouvi esse nome.
- Ok, então. Como posso ajudá-lo, Sr…
- Martim, Martim Apodrecido.
- Martim quê??
- Apodrecido…
- LOL!! Desculpe, como posso ajudá-lo?
- Eu gostava de saber como se chama a senhora que ontem foi atacada pelo cão raivoso à entrada das urgências.
- Espere um momento. (Um momento passa…) SSussana SSantos SSilva.
- Obrigada.”
Martim abandona o hospital determinado a encontrar SSussana. Caminha perdido sem se aperceber da direcção dos seus passos. Caminha para a urbanização Breeze. Enquanto tenta encontrar uma forma de descobrir SSussana, sempre com as palavras de Maluca na cabeça, Martim caminha com a certeza de que não sonhou quando viu alguém muito parecido com aquilo que ele próprio seria, se tivesse tomado banho e vestido alguma coisa decente, no dia anterior. Agora sabe o seu nome, Quim Zé Nãofaznenhum.